Tenebroso fantasma da falta de água volta a assombrar moradores de BH e RMBH

Vertedouro do Sistema Serra Azul não escoa água há tanto tempo que já acumula mato. (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )

O fantasma tenebroso da falta de água volta a assombrar moradores de Belo Horizonte e região metropolitana, e desta vez com uma dimensão nunca antes vista. Mesmo com a construção de uma adutora no Rio Paraopeba, que – conforme o governo estadual –, resolveria a questão do abastecimento nas próximas duas décadas, a direção da Copasa admitiu ontem que está às voltas com a pior crise dos últimos 100 anos – em se tratando de uma capital que completará 120 anos em 12 de dezembro, é possível concluir que se trata da situação mais grave da história. O anúncio chega em um momento em que a população ainda tem bem viva na memória a escassez de 2014/2015, que levou ao fechamento de torneiras em grande parte dos municípios mineiros.

O diretor de Operação da Copasa, Rômulo Perilli, surpreendeu ontem ao informar que a captação no Rio Paraopeba, inaugurada no fim de 2015 e anunciada então como a solução para os problemas da Grande BH por 20 anos, foi suspensa devido ao baixo volume no curso d’água. Apesar da gravidade da situação, principalmente diante da restrição de uso também nas águas do Rio das Velhas, ele disse que o nível atual dos três reservatórios que funcionam como caixas d’água para a região metropolitana – Rio Manso, Vargem das Flores e Serra Azul –, garante o abastecimento por pelo menos 10 meses. Antes disso, o dirigente diz acreditar na recuperação dos mananciais no período chuvoso.

Esperar que a solução caia do céu, porém, parece não ser uma estratégia segura. BH, por exemplo, atingiu ontem 101 dias de estiagem. E desde o início do ano as precipitações estão abaixo do esperado. “Os dados mostram que a precipitação nos primeiros nove meses de 2017 é a metade da média histórica dos últimos 65 anos para o mesmo período”, explicou o próprio Perilli.

Com isso, o nível dos reservatórios vem caindo drasticamente. Mas foi nos últimos meses que a situação se agravou: há 30 dias o conjunto de represas estava com 54,9% de armazenamento. Ontem, chegou 49,5%. A situação mais crítica é em Serra Azul, que estava com 27,3% de acumulação há um mês, mas caiu para 22,8%. Diante da situação, agora a estatal pede que a população economize. Promete também ações contra as ligações clandestinas, que representam 40% de recursos perdidos.

Temos aí uma tragédia anunciada no estado inteiro. A escassez é hídrica, mas a crise é de gestão”, reage o presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano. Ele destacou que, em Minas, já há 93 municípios em emergência devido à escassez hídrica. “Esse número representa 1,8 milhão de pessoas, uma população quase igual à da capital que sofre com o problema e não tem a visibilidade de BH. Há 29 municípios com racionamento, incluindo Montes Claros, na Região Norte”, afirmou. Na cidade, inclusive, a Copasa anunciou aumento do período de desabastecimento de 30 para 48 horas consecutivas.

Na avaliação do representante do comitê do Rio das Velhas, só a chuva não será solução. “Precisamos aumentar a capacidade de armazenamento de água, por isso tudo passa pela gestão. É preciso planejamento, pois há outorga desenfreada, lançamento de lixo nos rios, destruição das matas ciliares, hoje reduzidas a 30% no caso das florestas nativas, e outros problemas.

Lembrando que a situação é “complexa e integrada”, Polignano diz que não adianta nem um dilúvio para pôr fim ao problema. “Não há solução mágica como a construção de uma adutora, pois ela só vai operar quando houver chuva – embora isso não deixe de ser um ganho”, disse. Preocupado com o quadro atual, ele lembrou que a água é fundamental para o consumo humano, mas também para a economia, agropecuária e outros setores. “Não se pode deixar o paciente morrer. O poder público deve adotar medidas de curto e longo prazos e implantar projetos para a recarga dos rios.

A imagem de um paciente terminal também foi usada pelo presidente do Comitê da Bacia do Rio Paraopeba, Denes Martins da Costa Lott, para falar sobre a situação do rio. “É como tirar uma bolsa de sangue de um doente para fazer uma transfusão”, afirmou, em relação à adutora inaugurada no curso d’água, que em muitos pontos já pode ser atravessado a pé. “Não há dúvida de que falta gestão, que se traduz por obras de engenharia, recuperação das margens, enfim, planejamento”, disse. Na sua avaliação, o Paraopeba sempre foi negligenciado, mesmo sendo essencial para o abastecimento.

A crise não é novidade para o professor Marcelo Libânio, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG: “Estamos vivendo esta crise desde 2011, pois chove menos do que a média histórica. É uma estiagem atrás da outra”. O problema de fragilidade, destaca, é que entre 40% e 45% do volume de água produzida vem do Sistema Rio das Velhas. Como esse sistema não tem estrutura de armazenamento de água, fica refém da chuva, afirma.

Adutora

Mesmo com a baixa no nível dos reservatórios na Grande BH, a Copasa garante que o abastecimento não será comprometido na região. “Em 2015, a Copasa e o governo tomaram uma medida para fazer a captação no Paraopeba. Isso economizou nas nossas represas 135 milhões de metros cúbicos. Mas o Rio Paraopeba, no momento, está com uma vazão muito baixa. Por isso suspendemos a captação e trabalhamos com as represas”, disse o diretor da Copasa Rômulo Perilli.

A concessionária precisa lidar também com O nível baixo do Rio das Velhas, onde a captação é feita diretamente no leito, sem reservatório. Por isso, diminuiu a quantidade de água retirada. “Estamos conseguindo manter a vazão de 9 mil litros e tirando menos que normalmente. Atualmente, estamos em aproximadamente 5,5 mil litros, permitindo que rio continue à jusante”, disse.

Segundo o diretor, a população também tem que participar. “O que pedimos é que todos usem água com parcimônia. A água não é infinita e não pode ser usada de maneira predatória”, disse.

FONTE: Em.com.br

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2019-09-10T21:36:18-03:00